quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mané é mané.

Aloísio Dantas teve uma criação relativamente católica-radical. Isso porque, embora sua família fosse de cristãos fervorosos, não era obrigado a compartilhar daquela fé.

Ainda sim, ao seu jeito, teve muito contato com a fé bíblica. Isso fez construir nele um temor ao metafísico. Essa papo de milagre; possessão e tudo que foge à compreensão filosófico-científica dava-lhe friagem nas ventas.

Pois bem, já adulto, e longe da prática religiosa por anos, em uma tarde qualquer de um domingo mais qualquer ainda, fora convidado por um amigo para ir a um agradável balneário próximo de sua cidade. A ida à praia seria seguida por uma jam session em determinada casa.

Chegou no lugar, parou o carro em frente à tal casa. Nesse momento teve um pressentimento: temeu que algum larápio arrombasse seu belo carro esportivo, nada obstante haver mais uns 4 automóveis na rua.

Com a certeza de que Deus o protegeria em relação ao seu patrimônio automotivo, tudo ia bem, a cerveja; o tira-gosto; as morenas faceiras; o mar e os guruçás.

Após todo esse deleite, foram para a tal casa.

Recepcionados por uma desconfiada senhora, entrou, ele, seu amigo, e mais 4 ou 5 pessoas que foram se juntando ao grupo na praia.

Estando pouco à vontade pela recepção cabreira, tomou um “soco no estômago” quando seu amigo o advertiu: “isso aqui é um terreiro de macumba, desativado....”.

“Desativado? Desativado os colarinhos!! Essas paradas não se desativam, vide os cemitérios indígenas...” Pensou Lolô, que assim era carinhosamente chamado pelos mais íntimos (não, Lolô não era gay).

O segundo jab em seu proeminente abdômen ocorreu no momento em que se deparou com uma imagem, em escala real, de uma entidade, que reverenciava quem chegava ao espaço místico em stand by.

Mais tarde foi esclarecido, tratava de uma estátua de gesso de Zé Pelindra.

Àquela altura temia que os “cães” farejassem seus medos. Especificamente, que os “spritos maslignos” sacassem que estava apavorado com o lugar.

Diante dessa situação miserável, tentou recompor sua moral espiritual e deu uma de cético: “é só uma estátua...”, e partiu em frente.

Ao passar na “linha de visão” de Zé sentiu algo líquido em seu pé. O cagaço voltou e Aloísio sequer teve coragem de olhar o chão para saber de onde vinha “água”.

Mais à frente foi verificar o pé, e notou uma consistência pegajosa no líquido.

Voltou à postura cética, superou o medo e foi verificar, discretamente, a origem do melaço de seu pé.

Não chegou a conclusão nenhuma. Não havia potinho para cachorro; vaso de planta e nem nada que pudesse molhar o chão. Muito pelo contrário, o solo não tinha indício algum de líquidos.

Pronto, o pavor se restaurava e a vontade de sumir do local foi interrompida por um pequeno bafafá que vinha da rua.

Pessoas resmungavam.

Todos que estavam na casa saíram para ter ciência da origem do quiprocó e logo souberam: vários carros da rua estavam arrombados, exceto um, o de Lolô.

Antes de descobrir tal “sorte”, Lolô sentiu mais uma paúra no estômago, correu em seu carro e descobriu que estava intacto.

Aliviado, entrou novamente na casa e dessa vez encarou Zé, ali descobriu um leve sorriso, maroto e monalisístico.

Diante de tantas emoções, não quis delongar sua estada naquele recinto. Tratou de inventar uma desculpa para ir embora, talvez tenha sido uma missa.

De qualquer sorte, foi embora na certeza de que Zé convencera os malandros a não tocar em seu bem.

Depois passou a achar isso mera coincidência, mais para a poesia do que para um feito sobrenatural. Só um fato ficou claro em sua mente: não acreditava em bruxas, mas que elas existem, ah, isso sim!











MÚSICA A CALHAR:
"and i composed myself / and decided i should face it / Then i stood paralized" - The Chemical Brothers - The Golden Path