Extasiado e relaxado. Foi com esses dois sentimentos antagônicos
que deixei a sessão de cinema em que vi “As aventuras de Pi”, em 3D.
A expectativa que criei para “Avatar”, que é péssimo, foi
compensada com a película de Ang Lee. Isso porque, esperava sair daquela fábula
extraterrena como efetivamente saí da adaptação hindu.
Não sou chegado a blockbusters, mas curvar-se ao sistema
faz parte.
Antes de o filme de Pi ser lançado por aqui, ouvi duas abordagens
no globo News em Pauta sobre ele: (1) veja em 3D; (2) o filme é adaptação de
obra (“Life of Pi”, do canadense Yann Martel) que seria baseada em “Max e os
Felinos”, do autor gaúcho Moacyr Scliar.
Pesquisei sobre essa questão que, em verdade, causou certa
tensão.
Comprei o livro e discordo do finado escritor brasileiro...
Moacyr, com toda humildade e generosidade que só grandes
seres humanos são capazes, diz que a obra canadense apanhou “cena” de seu
livro, a de um naufrágio, seguido da convivência de um jovem com um grande
felino num barco salva-vidas.
Não.
As histórias literárias das vidas de Pi e Max tem intersecções
muito mais marcantes que a simples “cena” (seja lá o que isso queira dizer). Os
detalhes dos suprimentos dos botes, a questão do seguro do navio, a pesca para
alimentar a fera, os cardumes de peixes, a paixão com a mãe, as reprimendas dos
pai, a piscina no colégio...
Mesmo assim, ler o livro de Scliar me fez gostar ainda mais
de PI, sério. Vou me sentir bem e orgulhoso se as estatuetas carecas forem entregues
aos envolvidos com a película do Taiwanense.
Ambas as histórias são belas. Têm a ver com as feras internas
que dominamos, com as angústias dos jovens adultos, com a luta por viver,
justamente na fase em que não deveríamos depender mais de ninguém, mas só sentir
saudade do carinho de mãe e dos ensinamentos do pai.
Ontem vi um filme. O filme.
Sinônimo de estatueta e que também (e só agora pude
enxergar) fala sobre rito de passagem, dessa vez, em degrau(s) anterior.
"E.T., o Extraterrestre."
Eu me lembro quando o vi pela primeira vez, no cinema, 84 ou
85.
Naqueles dias de tenra idade, assim como ontem, me
emocionei. Ainda lembro-me da luz da telona refletir as lágrimas que corriam no
rosto da minha mãe. Não sei se chorei porque vi minha amada fazê-lo, ou se
por estar comovido pela história em si.
“ET, telefone, minha casa...” e uma criança aprende que a vida
é fugaz e que quem amamos pode ir embora, um dia. A "bondade" e a inocência
também alçam voo para bem longe, deixamos de ser menininho assim.
Elliot, Piscine, Max e Victor.
MÚSICA A CALHAR
“O tempo que é pai de tudo/ E surpresa não tem dia/ Pode ser
que haja no mundo/ Outra maior ironia” (“Pavio destino” – música de Sérgio
Sampaio na voz de Lenine, pessoa que merece uma estátua em Cachoeiro por esta
versão).