segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Oitenta e sete, para mim.

Olha esse time, amigo!

Este despretensioso, acanhado e, paradoxalmente, pernóstico blogueiro lembrou de pessoas que se indignam, pessoas de moral, para escrever este texto.

É para quem fica pau da vida quando vê, no supermercado, que os tomates bons estão bem abaixo dos verdes, estrategicamente posicionados na superfície da banca. Ou quando alguém passa com 20 itens no caixa rápido (eu passo quando não tem pack lacrado de Heiniken, aí não é culpa minha...).

É para você, amigo e amiga, que vê adolescentes sentarem nas poltronas dos ônibus metropolitanos, deixando idosos de pé (sobre estacionar na vaga de idoso de noite, confesso que o faço, madrugada é hora de “veio”dormir).

Enfim, e para você que dá valor ao que está posto e acha que, se for obedecido, a fluidez social é menos ruidosa (palavrório desnecessário...).

Pois bem, todos sabem da infundada e escrota (é o termo pejorativo mais, mais, mais escroto que eu conheço) discussão que há sobre quem é o Campeão Brasileiro de 1987, se o Clube de Regatas do Flamengo ou o Sport Club do Recife.

Adjetivei a polêmica pelo seguinte: o que os senhores acham, de um campeonato que começa com o regulamento dispondo “X” e, no meio, se muda para “Y”, alterando toda a conjectura inicial, sendo que isso ocorreu em uma reunião, no curso do certame, em que Eurico Miranda compareceu em nome do Clube dos 13 (representação dos maiores clubes nacionais, que foi o organizador inicial do campeonato, com o regulamento “X”)?

E mais: o que vocês acham da presidência de um clube, que estava a frente do Clube dos 13, que reconheceu a forma do regulamento “X”como válida, logo, campeão quem assim o foi sob sua égide, mas hoje rasga o que assinou? São os dirigentes do São Paulo Futebol Clube.

É sobre isso que trata a querela. Moralidade, hombridade e tudo mais que é nobre no ser.

A briga foi parar na Fifa que, ao que me parece, já se esquivou.

Mas nada disso importa, sabe o que vale? Eu vou te contar...

Em 1986 eu tinha 6 anos. Lembro de já ficar ansioso em jogos.

Recordo da Copa de 1986: do Araken, o showman; a camisa dos postos Texaco, que tinha uma bola de sombreiro, que funcionava como buzina; da Belina bege do meu pai, que fazia buzinasso nas vitórias; do almanaque da Copa com todas as seleções e histórias do futebol, com personagens do Walt Disney; mas principalmente de minha mãe e minha madrinha chorando copiosamente a eliminação do Brasil, puseram a culpa no Zico...

Em 1987 lembro de o Vasco vencer o Flamengo na final do Campeonato Carioca. Não compreendia bem a euforia de quatro primos (três mais velhos) curtindo com minha cara, me refugiei na poltronona do meu avô (os domingos eram em sua casa), de onde assiste aquele fatídico jogo, do qual não me lembro tanto.

Talvez esses dois episódios futebolísticos deixaram a minha verve rubro-negra mais pulsante.

Por isso, as lembranças do brasileiro de 1987 são mais nítidas e os sentimentos mais claros.

A arrancada do Renato Gaúcho para o terceiro gol da vitória do Fla sobre o Galo, no Mineirão, levou o meu time à final.

Assisti esse jogo na minha ex-casa de Cachoeiro, com meu pai e meu avô paterno, Vô Darcy, três gerações de flamenguistas. Isso não se esquece...

A minha memória não descarta que, quando saiu o gol, comemorei apoiando as palmas das mãos no para-peito da janela e dei um pulo.

O movimento assustou meu pai que me deu um baita esporro: "Victor! Sai de perto da janela, sô!"

O Mengo foi para a final contra o Inter, que era um timão àquela época, a gauchada sempre foi temida.

Ainda sinto a temperatura do chão da sala do meu avô, onde deitei, só, para ver a final do brasileirão (onde estavam os primos vascaínos nessa hora?).

Minha memória gravou uma cena em que o Renato Gaúcho era filmado no início do jogo, caminhava olhando para o chão e, ao ver um objeto atirado da arquibancada, tocando o solo, fingiu imediatamente que havia sido atingido e se jogou...

O jogo ficou 1 x 1.

No segundo jogo, no Maracanã, meu pai, acho, não me deixou ver.

Me levou para a missa naquela Igreja ali no bairro Praça da Bandeira, em Cachoeiro, não lembro o nome dela.

Depois do jogo, comíamos pastel e ouvimos foguetes, ele disse: “meu filho, o Flamengo foi campeão...”.

Para mim o que basta é isso. Meu pai disse que o Flamengo foi campeão, não me importa a Justiça Federal ou o Juca Kfouri.

É com essa lembrança, nostálgica, que eu homenageio meu pai e outros homens da minha vida: Meu avô João, meu avô Darcy e meu ídolo, Zico.






“Pois mesmo quando não está inspirado; Ele procura a inspiração” (“Camisa 10 Da Gávea” – Jorge Ben – imagina se ele fosse vascaíno? É a mesma coisa que imaginar o mundo com a Alemanha ganhando a Segunda Guerra Mundial, eeeee desgosto profundo...).

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