quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Há sociedade com canseira...

Há.

Haja sociedade.

Haja cansaço.

Aja, sociedade.

Aja, cansado.

Câncer.



O tempo cobra.

Cobra cobre.

E é o que é.

Encobre.

Enquanto rasteja, dá bote.



Aja em sociedade.

Haja vista que me cansa, mas dá, ô se dá.



MÚSICA A CALHAR:

“I wonder should I call you but I know what you would do” (I`m so tired – The Beatles)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Correspondência.

Hamilton, um cara de sorte e estivera apaixonado.

Atuara bem no trabalho, tirara férias, fora promovido, admirado por seus subalternos.

Parara de fumar, bebera menos.

Recebera uma carta, uma tia morreu. Herança lhe fora de direito.

Como se já não bastara...

Dinheiro chama dinheiro.

Ainda ganhara o poker, muito.

Vivia, jovem.

Saudável, atlético e altivo.

Simpático, elegante e educado.

Casa, devassada, vidros, varanda, rede, jardim, Golden Retrivier.

Substantivo, adjetivos e predicados.

O céu fora seu limite, foi?

Por seu turno, Gardênia sequer o considerava.


MÚSICA A CALHAR:

“Pobre de quem acredita. Na glória e no dinheiro para ser feliz” (Saudade da Bahia - Dorival Caymmi).

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Oitenta e sete, para mim.

Olha esse time, amigo!

Este despretensioso, acanhado e, paradoxalmente, pernóstico blogueiro lembrou de pessoas que se indignam, pessoas de moral, para escrever este texto.

É para quem fica pau da vida quando vê, no supermercado, que os tomates bons estão bem abaixo dos verdes, estrategicamente posicionados na superfície da banca. Ou quando alguém passa com 20 itens no caixa rápido (eu passo quando não tem pack lacrado de Heiniken, aí não é culpa minha...).

É para você, amigo e amiga, que vê adolescentes sentarem nas poltronas dos ônibus metropolitanos, deixando idosos de pé (sobre estacionar na vaga de idoso de noite, confesso que o faço, madrugada é hora de “veio”dormir).

Enfim, e para você que dá valor ao que está posto e acha que, se for obedecido, a fluidez social é menos ruidosa (palavrório desnecessário...).

Pois bem, todos sabem da infundada e escrota (é o termo pejorativo mais, mais, mais escroto que eu conheço) discussão que há sobre quem é o Campeão Brasileiro de 1987, se o Clube de Regatas do Flamengo ou o Sport Club do Recife.

Adjetivei a polêmica pelo seguinte: o que os senhores acham, de um campeonato que começa com o regulamento dispondo “X” e, no meio, se muda para “Y”, alterando toda a conjectura inicial, sendo que isso ocorreu em uma reunião, no curso do certame, em que Eurico Miranda compareceu em nome do Clube dos 13 (representação dos maiores clubes nacionais, que foi o organizador inicial do campeonato, com o regulamento “X”)?

E mais: o que vocês acham da presidência de um clube, que estava a frente do Clube dos 13, que reconheceu a forma do regulamento “X”como válida, logo, campeão quem assim o foi sob sua égide, mas hoje rasga o que assinou? São os dirigentes do São Paulo Futebol Clube.

É sobre isso que trata a querela. Moralidade, hombridade e tudo mais que é nobre no ser.

A briga foi parar na Fifa que, ao que me parece, já se esquivou.

Mas nada disso importa, sabe o que vale? Eu vou te contar...

Em 1986 eu tinha 6 anos. Lembro de já ficar ansioso em jogos.

Recordo da Copa de 1986: do Araken, o showman; a camisa dos postos Texaco, que tinha uma bola de sombreiro, que funcionava como buzina; da Belina bege do meu pai, que fazia buzinasso nas vitórias; do almanaque da Copa com todas as seleções e histórias do futebol, com personagens do Walt Disney; mas principalmente de minha mãe e minha madrinha chorando copiosamente a eliminação do Brasil, puseram a culpa no Zico...

Em 1987 lembro de o Vasco vencer o Flamengo na final do Campeonato Carioca. Não compreendia bem a euforia de quatro primos (três mais velhos) curtindo com minha cara, me refugiei na poltronona do meu avô (os domingos eram em sua casa), de onde assiste aquele fatídico jogo, do qual não me lembro tanto.

Talvez esses dois episódios futebolísticos deixaram a minha verve rubro-negra mais pulsante.

Por isso, as lembranças do brasileiro de 1987 são mais nítidas e os sentimentos mais claros.

A arrancada do Renato Gaúcho para o terceiro gol da vitória do Fla sobre o Galo, no Mineirão, levou o meu time à final.

Assisti esse jogo na minha ex-casa de Cachoeiro, com meu pai e meu avô paterno, Vô Darcy, três gerações de flamenguistas. Isso não se esquece...

A minha memória não descarta que, quando saiu o gol, comemorei apoiando as palmas das mãos no para-peito da janela e dei um pulo.

O movimento assustou meu pai que me deu um baita esporro: "Victor! Sai de perto da janela, sô!"

O Mengo foi para a final contra o Inter, que era um timão àquela época, a gauchada sempre foi temida.

Ainda sinto a temperatura do chão da sala do meu avô, onde deitei, só, para ver a final do brasileirão (onde estavam os primos vascaínos nessa hora?).

Minha memória gravou uma cena em que o Renato Gaúcho era filmado no início do jogo, caminhava olhando para o chão e, ao ver um objeto atirado da arquibancada, tocando o solo, fingiu imediatamente que havia sido atingido e se jogou...

O jogo ficou 1 x 1.

No segundo jogo, no Maracanã, meu pai, acho, não me deixou ver.

Me levou para a missa naquela Igreja ali no bairro Praça da Bandeira, em Cachoeiro, não lembro o nome dela.

Depois do jogo, comíamos pastel e ouvimos foguetes, ele disse: “meu filho, o Flamengo foi campeão...”.

Para mim o que basta é isso. Meu pai disse que o Flamengo foi campeão, não me importa a Justiça Federal ou o Juca Kfouri.

É com essa lembrança, nostálgica, que eu homenageio meu pai e outros homens da minha vida: Meu avô João, meu avô Darcy e meu ídolo, Zico.






“Pois mesmo quando não está inspirado; Ele procura a inspiração” (“Camisa 10 Da Gávea” – Jorge Ben – imagina se ele fosse vascaíno? É a mesma coisa que imaginar o mundo com a Alemanha ganhando a Segunda Guerra Mundial, eeeee desgosto profundo...).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Falta de assunto...

Eu poderia falar da vida, mas ela é muito grande;

Eu poderia falar de morte, mas eu não a conheço;

Eu poderia falar das propagandas de utilitários esportivos que usam música do Queen, mas elas até que são razoáveis;

Eu poderia falar do bebum da praça, mas o bafo de espanta neném dele me prejudica a opinião;

Eu poderia falar do traveco de pé grande, tatuado, que eu vi na padaria, mas homofobia está para virar crime;

Eu poderia falar do Poder Judiciário, mas prefiro adotar um tom cortez;

Eu poderia falar da menina bonita de olho claro que passou assobiando, de mochila e semblante ameno, mas ela não me deu bola;

Eu poderia falar do cara estranho que passa correndo fazendo careta, mas vai que ele me agride;

Eu poderia falar daquele filme maneiro, mas eu dormi no meio;

Eu poderia falar de economia, se eu não esbanjasse tanto;

Eu poderia falar dos meus amores, se alguém se interessasse;

Eu poderia falar do Projeto de Lei do Novo Código Florestal, mas eu não li o relatório do Aldo;

Eu poderia falar de balas de borracha, mas eu não fui às ruas esbravejar contra ninguém;

Eu poderia falar do #protestoemvitoria, mas eu tenho receio de sofrer represália da Rua da Lama;

Eu poderia falar das minhas obrigações e paranóias, mas eu prefiro enfrentá-las;

Eu poderia falar de minhas dívidas, mas elas são só de minha conta;

Eu poderia falar do meu final de semana, mas terceiros não autorizariam;

Eu poderia falar de você, mas prefiro deixar passar;

Eu poderia falar de tudo, se você quisesse me escutar.



MÚSICA A CALHAR:
"Eu não sei dizer, nada por dizer, então eu escuto" (Fala - Secos & Molhados)

domingo, 27 de março de 2011

Pagando o sapo.

Arlete era doméstica.

Mulata batalhadora, honesta e ingênua.

Servia a uma família e Arthurzinho, o caçula de 03 anos, era louco por ela, a ponto de ficar notadamente triste nos sábados, domingos e dias que a dublê de babá e cozinheira faltava.

O angu ilhado em um prato de feijão era a maneira peculiar que Arlete alimentava seu pequeno fã.

Numa determinada manhã, chegou meio atrasada para preparar sua iguaria. Atrasada e assustada.

Sra. Maria, a patroa, indagou: “Arlete, isso são horas??”

Arlete correu para o banheiro e se pôs a chorar.

A chefa teve dó e foi atrás, disse: “Arlete, não fique assim... não estou brigando, só quero saber se tudo está bem...”

“Não, não está!”, respondeu abrasivamente a mucama. “E eu não sou ‘Arlete’, sou ‘Marise’!”

O bafafazinho chamou atenção do pequeno Arthur, que veio até à porta da cozinha para ver o que acontecia.

Ainda meio abalada, Arle.. digo, Marise saiu do banheiro e explicou: “Sabe oque que é, D. Maria? É que eu soube que uma vizinha, num sei por causa de que, pôs meu nome velho na boca de um sapo...”.

D. Maria disse: “Arlete, deixa de bobagens, menina... essas coisas não existem... anda, vamos começar os trabalhos do dia logo, Arthurzinho jajá vai querer comida...”.

“Não!”, disse a servidora.

“Quero ser chamada de Marise agora!”

O dia de trabalho foi passando, e tantos outros.

Em longos três anos que Arlete serviu àquela família, foi chamada de Marise pelos habitantes da casa umas 5 vezes, todas por D. Maria, e três só no primeiro dia.

Arthur só a chamava de Lelete.

O tempo passou, Arlete não sofreu nenhum mal que pudesse ser fruto de macumba, muito pelo contrário, hoje é uma pequena, mas bem sucedida, comerciante de seu bairro.

Enfim, todos seguiram suas vidas Maria, Arthur, o chefe da família, os irmãos e todo mundo.

Ah! Menos o sapo, foi difícil explicar à Dona Rã quem era Arlete e porque carregava aquele nome dentro de sua boca. Morreu a cascudadas, coitado.


MÚSICA A CALHAR:

Escreveu o seu nome no papel/ Botou na boca de um sapo/ Cruzou e cozeu boca de bicho/ E soltou ele no mato/ Quando ele morrer de fome/ Sumcê vai para buraco.” (“Eu ta vendo no fundo do copo” – Noriel Vilela).

segunda-feira, 21 de março de 2011

A condenação: estigma.

Passei um longo tempo sem postar aqui, volto a tratar de tema que muito me aflige.

Com se sabe, há um suspeito folclore de que pessoas nascidas no Reinado de Cachoeiro de Itapemirim seriam bairristas.

Ora, não é só porque o seu filho mais bobinho perdeu a perna e virou Rei, ou o fato de o Rio que atravessa seus vales, formando corredeira e cachoeiras, ao desaguar numa baixada de relativo tamanho, forma o Oceano Atlântico, que saímos aos quatro ventos cantando essa marra.

Não, definitivamente não é por isso.

Rubens Bragas, Luz Del Fuegos, Carlos Imperiais, Sérgio Sampaios, Sérgio Bermudeses e Bujicas à parte, o maior fator de nosso amor à nossa terra é um singelo: a nossa região foi a primeira a ser habitada pelo homem pré-cabraliano.

Ééééé... segura essa malandro!!

Vá ao Museu Nacional no Rio de Janeiro, procure por uma ponta de flecha que lá está. Ela remonta há dez mil anos atrás, os primórdios da ocupação hominídea no Brasil.

Isso quer dizer que o primeiro lugar no Brasil apto a ter o desenvolvimento humano foi a nossa região, fato que encaro com naturalidade.

De lá, os cachoeirenses saíram para dominar todo o Brasil, como de costume.

O artefato teria sido encontrado em Cachoeiro, na região de Vargem Alta há muitos anos atrás.

Opa!!

"Como assim? Foi encontrado na sede do Reino ou em sues arredores de climatização temperada? Vargem Alta é outro lugar, pô!" Aposto que foi assim que o leitor amigo refletiu...

Esse fato é importante para um outro assunto que gosto de tratar e popularizar: a vida do advogado.

Calma e vamos lá, já explico.

Sempre que me identifico como causídico, o interlocutor manda aquela: “Ahhh! Você é advogado? É que eu tenho um primo que está preso...” ou “É que eu fui demitido, quero saber o que eu tenho direito...”

E por aí vai...

Gente, uma coisa deve ficar clara, advogados têm especialidades. Muito embora muita coisa possa ser resolvida por princípios gerais de Direito, uma opinião sincera e segura deve ser colhida após certo estudo.

Desconfie de quem se arvora a conhecer todas as especialidades, esses se enrolam, sem dúvida. Essa “modalidade”de advocacia é rara, própria de decanos. Talvez seja por essa e por outras que o advogado seja um profissional tão estigmatizado.

Pois bem, agora fazendo a clássica mescla dos assuntos (comum aos posts deste acanhado e ingênuo blog) até aqui tratados.

Afinal, a Ponta de Flecha é cachoeirense ou de Vargem Alta (nem sei o gentílico do simpático lugarejo)?

Sem dúvida que o Direito resolve e, para não cansar ainda mais vocês, serei direto como uma flecha! (¬¬)

Bem, um princípio geral de direito: tempus regit actum, confere?

Logo, se a Ponta de Flecha foi achada antes de 1988, na região de Vargem Alta, assim, antes de sua emancipação Política, para todos os efeitos, foi achada em Cachoeiro, pois até então, lá era Distrito desse.

Uma questão de Direito Intertemporal.

Como o direito é lindo! Resolve a porra toda!

E melhor, nos legitima, ainda mais, a professar o amor à sagrada terra caliente do Cachoeiro (só não moro lá...).






MÚSCICA A CALHAR:

“Put your house out up for sale? Did you get a good lawyer?” (Valerie – The Zutons, versão original da canção, pela banda que é oriunda do equivalente a Cachoeiro na Bretanha, Liverpool).

PS.: Um "em tempo" necessário e que me faz lançar mão da liberdade poética, para o texto. Eis o email que recebi ontem, pouco depois da postagem, do Arqueólogo Sr. Prof. Celso Perota:

"Prezado Vitor,

Realmente existe no acervo do Museu Nacional, um artefato que é uma ponta de projétil de grupos de caçadores que habitaram a região de Vargen Grande de Soturno e na Serra da Gironda.

É uma ponta feita em quartzo, com técnicas avançadas de lascamento e provavelmente foi utilizada na caçada da megafauna que habitou a região cerca de 7.500 anos atrás.

Além dos artefatos arqueológicos existem na coleção uma outro acervo paleontológico, representado por ossos de grande animais como a preguiça gigante, tatu canastra e, provavelmente o tigre de dente de sabre.

Um abraço

Perota"

Ou seja, que Vargem Alta que nada...